segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Flores e Polinizadores II


O Jardim Botânico tem sido ao longo do tempo um recurso importante para o estudo de uma ampla panóplia de disciplinas. A colecção viva pode, por exemplo, ilustrar a diversidade construida ao longo do tempo pela intervenção de polinizadores na reprodução das plantas.

A Magnolia grandiflora L. pertence a uma das famílias de angiospérmicas mais antigas e as suas flores são radialmente simétricas, com pétalas grandes e um eixo central onde se dispõem, espiraladamente, os estames e carpelos. É visitada por todo o tipo de polinizadores e a única recompensa que disponibiliza é o pólen. Muito é desperdiçado mas, eventualmente algum fica preso ao corpo dos insectos para depois ser depositado no estigma de outras flores depois visitadas.

Magnolia grandiflor
 
Mas já nas flores das Leguminosas, como a Sophora davidii (Franch.) Skeels. ou nas Escrophulariáceas (Calceolaria pavonii Benth.) de simetria bilateral, os estames e carpelos estão escondidos e só as abelhas têm a força e coordenação suficientes para manipular as pétalas e ter acesso ao néctar, no interior da flor. 

       Sophora davidii e Calceolaria pavonii                             


 
As abelhas não vêm o vermelho, mas distinguem o amarelo, o azul, o ultravioleta. Nas flores da Catalpa bignonioides Walter distinguem-se duas faixas amarelas que se iniciam junto da fauce e se prolongam até à base, além de manchas acastanhadas espalhadas em todo o tubo. São marcas especiais para encaminharem o insecto até à esperada recompensa, o néctar.

Catalpa bignonioides 


Nos brincos-de-princesa (Fuchsia spp.) os agentes polinizadores são as aves.


Já as borboletas nocturnas e os morcegos, com sentido apurado do olfacto, visitam flores de cores pálidas, que atraem estes polinizadores exalando perfumes adocicados durante a noite. Incluem-se aqui as flores da Gardenia thunbergia L. f.
 
Gardenia thunbergia

No caso particular da Yucca, a borboleta nocturna, ao mesmo tempo que transfere o pólen, põe um ovo na flor.
A larva daí resultante alimenta-se das sementes em desenvolvimento da planta mas deixa sempre sementes suficientes para perpetuar a espécie. É um caso de um verdadeiro mutualismo já que para cada espécie de Yucca há uma borboleta específica. É dos mutualismos melhor estudados e descritos quer do ponto de vista funcional quer genético.



Mas há flores que avisam os seus potenciais polinizadores que já foram visitadas e não vale a pena perder um tempo precioso. Na Parkinsonia aculeata L., uma das pétalas, muda de amarelo para o vermelho.
 
Parkinsonia aculeata

Também na Quisqualis indica L., toda a flor passa de branca a vermelha, num aviso aos seus potenciais polinizadores.

Quisqualis indica

Esta relação planta e polinizador tornou possível a existência de uma enorme diversidade de plantas nos diferentes habitats existentes no planeta.
(I. Melo)