terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Depois da tempestade, vem a bonança




À primeira vista poderá parecer uma palmeira... pequena ainda. Mas aquela pinha no meio da coroa de folhas deixa-nos desconcertados. Mais ainda se tivermos de a juntar ao grupo dos pinheiros e não das palmeiras.

Esta planta, Encephalartos lehmannii Lehm., pertence ao grupo das cicadófitas, um grupo de plantas que conviveu com os dinossauros e atingiu o auge durante o Jurássico.
Nesta fase da história da Terra ainda dominavam as plantas sem flor, como os fetos e as gimnospérmicas, incluindo araucárias, cicas ou a Ginkgo biloba.
Nas gimnospérmicas, as sementes podem ter um revestimento carnudo ou não, mas nunca existe um fruto. Algumas destas sementes podem estar protegidas em cones, como nos pinheiros, nos ciprestes ou nas cicadófitas.


Os indivíduos da espécie Encephalartos têm os sexos separados, embora ambos apresentem cones. Os cones masculinos são estreitos, com cerca de oito centímetros de diâmetro, enquanto que os cones femininos, como neste exemplar, têm uma forma de barril que chega aos 25 centímetros. Os cones femininos chegam mesmo a ter o dobro do comprimento dos masculinos, atingindo meio metro. Abrem quando madurados mostrando as sementes vermelhas de cinco centímetros.


Sendo uma planta sul-africana ocorre em zonas semi-áridas, com Verões muito quentes e Invernos muito frios, onde os períodos de seca são longos e frequentes. A sua capacidade de sobrevivência nestas condições extremas fazem dela a espécie de cicadófita mais resistente à seca na África-do-Sul.
Mas na verdade, são os períodos de chuva intensa, como se tem vivido em Lisboa nos últimos meses, que estimulam estas plantas a produzir os seus cones.

Porém, a seca extrema nos locais de origem – impedindo a formação de cones, logo a reprodução –, a pressão do gado caprino que se alimenta das suas folhas e o excesso de colheita para venda como planta ornamental, são as principais causas de ameaça a esta espécie.

A planta Encephalartos lehmannii foi descrita pelo botânico alemão Johann Georg Christian Lehmann, que publicou um livro sobre cicadófitas em 1834. Se lehmannii vem do nome do seu autor, encephalartos (cabeça + pão) poderá estar relacionado com o facto de fazerem farinha a partir da medula macia do seu caule.

(Vera Novais, Bióloga e Comunicadora de Ciência)

"O autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico."