Os musgos as hepáticas e os antóceros no Jardim Botânico do Museu Nacional
de História Natural e da Ciência (MUHNAC)
Os briófitos (musgos as hepáticas e os antóceros) são
plantas terrestres não vasculares, muito pouco diferenciadas quanto ao tipo de
organização. O seu crescimento e reprodução sexuada dependem profundamente da
disponibilidade de água e este fator é sempre o mais limitante. Embora estas
plantas tenham adquirido adaptações a uma grande diversidade de condições
ambientais, moldaram-se quer no aspeto morfológico, ecofisiológico quer no tipo
de dispersão. Muitas espécies estão adaptadas às condições climáticas
relativamente estáveis como as encontradas no interior das florestas, sendo no
entanto, extremamente sensíveis a alterações dessa mesma estabilidade.
Parque Nacional da Peneda-Gerês, local de excelência
para as comunidades de briófitos em Portugal
Desempenham um papel muito importante nos
ecossistemas, são considerados bons indicadores da qualidade dos habitats e da
sua funcionalidade ecológica, criam condições para a acumulação de húmus,
estabilização dos solos, para a fixação e germinação de sementes, servindo de
alimento e proteção para diversas espécies de animais. Têm também um papel
considerável na acumulação de biomassa, na reciclagem dos nutrientes e no ciclo
da água. Nos dias de precipitação ou nevoeiro funcionam como “esponjas”,
facilitando um escoamento mais suave da água até ao solo, impedindo a formação
de turbilhões até às linhas de água, contendo por isso a erosão. Armazenam
assim, grandes quantidades de água que são fundamentais para a manutenção do
equilíbrio hídrico, por exemplo no interior de uma floresta. Foi observado que
inúmeros fatores ambientais tinham efeito na distribuição das comunidades.
Quando existe um fogo as primeiras espécies a surgir são briófitos nomeadamente
Funaria higrometrica Hedw. ex Guim e Ceratodon purpureus (Hedw.) Brid., além
de diversas espécies de líquenes criando condições para o solo ser estabilizado
e as sementes das plantas vasculares não serem arrastadas pelos turbilhões de
água, fixarem-se e posteriormente germinarem, funcionando como a experiência que
os alunos no primeiro ciclo elaboram frequentemente usando feijões e algodão.

Funaria higrometrica Hedw. ex Guim num solo queimado no Parque Natural da Serra da Estrela a 1500 m de altitude.
Funaria higrometrica Hedw. ex Guim e os seus esporos que rapidamente colonizam o solo após os incêndios criando condições para o aparecimento de outras espécies. É muito importante pois contribui para evitar a perda do solo que demora milhares de anos a ser formado.
Estas plantas são ainda considerados excelentes
indicadores da qualidade ambiental, existindo espécies muito sensíveis e outras
tolerantes, sendo por isso frequentemente utilizados nos estudos de
monitorização ambiental nas grandes cidades e em grandes complexos industriais.
O
MUHNAC desenvolve trabalhos desde os anos 70 em diferentes regiões do país
utilizando estes organismos, destacando-se a região de Sines, Abrantes e principalmente
em Lisboa, na margem Norte, Sul e na região envolvente a Central de Tratamento
e Resíduos Sólidos de São João da Talha (CTRSU). Existe assim uma base de dados
acerca da evolução dos padrões de distribuição destas espécies ao longo dos ano,
estando os espécimes no herbário (LISU) da instituição, podendo ser utilizados
par outros estudos como a evolução de metais pesado etc. É interessante
verificar que espécimes colhidos em Lisboa no século XIX por Friedrich
Welwitsch (1806-1872) entre outros botânicos, e guardadas no herbário da
instituição têm características distintas das que são hoje colhidas nos mesmos
locais o que indica uma degradação da qualidade do ar entre os dois períodos.
Esta característica tem a ver com a sexualidade, onde a reprodução sexuada é substituída
pela reprodução assexuada, com formação de propágulos onde a espécie pode
sobreviver em condições longe do ótimo ecológico. No entanto, há outras muito
sensíveis que desaparecem ao mínimo de perturbação e nem se reproduzem
assexuadamente.
Existem cerca de 720 espécies em Portugal e muitas
delas estão ameaçadas de extinção como vem referido no Atlas e Livro Vermelho
dos Briófitos Ameaçados de Portugal que foi desenvolvido pela instituição e com
a colaboração de outras entidades, encontrando-se em fase de publicação.
O
Jardim Botânico do
MUHNAC no centro da cidade de
Lisboa é um refúgio para muitas espécies existindo muitos taxa que na cidade de
Lisboa são só conhecidos no local. Apresenta uma diversidade de habitats e
estabilidade ecológica que permite o aparecimento de espécies consideradas
sensíveis existindo normalmente em florestas com
continuidade ecológica.
Seguidamente apresentam-se algumas espécies que
podem ser encontradas neste local especial no centro da cidade de Lisboa:
Musgos
Dicranoweisia cirrata (Hedw.) Lindb. sobre uma palmeira
Dicranoweisia cirrata (Hedw.) Lindb.
Syntrichia laevipila Brid.
Leptodon
smithii (Hedw.) F. Weber
& D. Mohr
Fabronia
pusilla Raddi
Orthotrichum
diaphanum Schrad. ex Brid.
Orthotrichum
tenellum Bruch ex Brid.
Hepáticas
- Petalophyllum ralfsii (Wilson)
Nees & Gottsche a crescer espontaneamente no Jardim Botânico.
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Conocephalum conicum (L.) Underw.
Frullania
dilatata (L.) Dumort.
Lunularia cruciata (L.) Dumort. ex Lindb.
Metzgeria
furcata (L.) Corda
Radula
lindbergiana Gottsche ex C.
Hartm.
Phaeoceros
laevis (L.) Prosk.
Créditos das fotos e vídeo:
César Garcia (cgarcia@museus.ul.pt) - MUHNAC