O Jardim Botânico tem sido
ao longo do tempo um recurso importante para o estudo de uma ampla panóplia de
disciplinas. A colecção viva pode, por exemplo, ilustrar a diversidade
construida ao longo do tempo pela intervenção de polinizadores na reprodução
das plantas.
A Magnolia grandiflora L. pertence a uma das famílias de
angiospérmicas mais antigas e as suas flores são radialmente simétricas, com
pétalas grandes e um eixo central onde se dispõem, espiraladamente, os estames
e carpelos. É visitada por todo o tipo de polinizadores e a única recompensa
que disponibiliza é o pólen. Muito é desperdiçado mas, eventualmente algum fica
preso ao corpo dos insectos para depois ser depositado no estigma de outras
flores depois visitadas.
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Magnolia grandiflor |
Mas já nas flores das
Leguminosas, como a Sophora davidii
(Franch.) Skeels. ou nas Escrophulariáceas (Calceolaria
pavonii Benth.) de simetria bilateral, os estames e carpelos estão
escondidos e só as abelhas têm a força e coordenação suficientes para manipular
as pétalas e ter acesso ao néctar, no interior da flor.
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Sophora davidii e Calceolaria pavonii |
As abelhas não vêm o
vermelho, mas distinguem o amarelo, o azul, o ultravioleta. Nas flores da Catalpa bignonioides Walter distinguem-se
duas faixas amarelas que se iniciam junto da fauce e se prolongam até à base,
além de manchas acastanhadas espalhadas em todo o tubo. São marcas especiais
para encaminharem o insecto até à esperada recompensa, o néctar.
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Catalpa bignonioides |
Nos brincos-de-princesa (Fuchsia spp.) os agentes
polinizadores são as aves.
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Já as borboletas
nocturnas e os morcegos, com sentido apurado do olfacto, visitam flores de
cores pálidas, que atraem estes polinizadores exalando perfumes adocicados
durante a noite. Incluem-se aqui as flores da Gardenia thunbergia L. f.
No caso particular da Yucca, a borboleta nocturna, ao mesmo
tempo que transfere o pólen, põe um ovo na flor.
A larva daí resultante
alimenta-se das sementes em desenvolvimento da planta mas deixa sempre sementes
suficientes para perpetuar a espécie. É um caso de um verdadeiro mutualismo já
que para cada espécie de Yucca há uma
borboleta específica. É dos mutualismos melhor estudados e descritos quer do
ponto de vista funcional quer genético.
Mas há flores que avisam os
seus potenciais polinizadores que já foram visitadas e não vale a pena perder
um tempo precioso. Na Parkinsonia aculeata L., uma das pétalas, muda de amarelo
para o vermelho.
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Parkinsonia aculeata |
Também na Quisqualis indica
L., toda a flor passa de branca a vermelha, num aviso aos seus potenciais
polinizadores.
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Quisqualis indica |
Esta relação planta e
polinizador tornou possível a existência de uma enorme diversidade de plantas
nos diferentes habitats existentes no planeta.
(I. Melo)