À primeira vista poderá parecer uma palmeira... pequena
ainda. Mas aquela pinha no meio da coroa de folhas deixa-nos desconcertados.
Mais ainda se tivermos de a juntar ao grupo dos pinheiros e não das palmeiras.
Esta planta, Encephalartos lehmannii Lehm., pertence
ao grupo das cicadófitas, um grupo de plantas que conviveu com os dinossauros e
atingiu o auge durante o Jurássico.
Nesta fase da história da Terra ainda dominavam as plantas
sem flor, como os fetos e as gimnospérmicas, incluindo araucárias, cicas ou a Ginkgo
biloba.
Nas gimnospérmicas, as sementes podem ter um revestimento
carnudo ou não, mas nunca existe um fruto. Algumas destas sementes podem estar
protegidas em cones, como nos pinheiros, nos ciprestes ou nas cicadófitas.
Os indivíduos da espécie Encephalartos têm os sexos
separados, embora ambos apresentem cones. Os cones masculinos são estreitos,
com cerca de oito centímetros de diâmetro, enquanto que os cones femininos,
como neste exemplar, têm uma forma de barril que chega aos 25 centímetros. Os
cones femininos chegam mesmo a ter o dobro do comprimento dos masculinos,
atingindo meio metro. Abrem quando madurados mostrando as sementes vermelhas de
cinco centímetros.
Sendo uma planta sul-africana
ocorre em zonas semi-áridas, com Verões muito quentes e Invernos muito frios,
onde os períodos de seca são longos e frequentes. A sua capacidade de
sobrevivência nestas condições extremas fazem dela a espécie de cicadófita mais
resistente à seca na África-do-Sul.
Mas na verdade, são os períodos
de chuva intensa, como se tem vivido em Lisboa nos últimos meses, que estimulam
estas plantas a produzir os seus cones.
Porém, a seca extrema nos locais
de origem – impedindo a formação de cones, logo a reprodução –, a pressão do
gado caprino que se alimenta das suas folhas e o excesso de colheita para venda
como planta ornamental, são as principais causas de ameaça a esta espécie.
A planta Encephalartos
lehmannii foi descrita pelo botânico alemão Johann Georg Christian Lehmann,
que publicou um livro sobre cicadófitas em 1834. Se lehmannii vem do
nome do seu autor, encephalartos (cabeça + pão) poderá estar relacionado
com o facto de fazerem farinha a partir da medula macia do seu caule.
(Vera Novais, Bióloga e Comunicadora de Ciência)
"O autor do texto não
escreve segundo o novo Acordo Ortográfico."